O uso do Livre-arbítrio definirá quem você é...
- José Alberto Tostes
- 18 de mai. de 2020
- 8 min de leitura
Escolher não é algo fácil. No contexto contemporâneo tem sido desafiador definir nossas escolhas. Recentemente, lendo o livro de autoria do espanhol, Fernando Savater, foi possível refletir sobre este tema. Em tese, a escolha está diretamente proporcional a questão do Livre arbítrio. São inúmeros os fatores pelos quais se acredita que possa interferir no ato de escolha. Historicamente o assunto tem sido estudado através dos tempos.
Na contra capa da obra “A importância da escolha”, apresenta um texto que explica a natureza do processo de escolha. “Liberdade é mesmo a razão e o principal sentimento de nossas vidas? Somos realmente livres para decidirmos sobretudo a hora que quisermos? Estas e outras importantes questões são discutidas no livro, de Savater. Na primeira parte, o autor fala sobre a antropologia, a liberdade do ser humano e suas escolhas de acordo com contextos históricos e culturais. Na segunda, discorre sobre as escolhas que fizemos ou poderíamos ter feito. O livro é um verdadeiro exercício para continuar a pensar e refletir.” (Savater, Fernando. A importância da escolha. Editorial: Planeta Tema: Autoajuda Coleção: Narrativa Planeta, p. 05).
Porém, além dessa obra é interessante perceber o conceito de livre arbítrio, de como é visto de diversas formas em várias doutrinas. O Livre-arbítrio ou livre-alvedrio são expressões que denotam a vontade livre de escolha, as decisões livres. O livre arbítrio, que quer dizer, o juízo livre, é a capacidade de escolha pela vontade humana (Nogueira, 2008).
Para Nogueira (2008) o livre arbítrio é uma crença religiosa ou uma proposta filosófica que defende que a pessoa tem o poder de decidir as suas ações e pensamentos segundo o seu próprio desejo e crença. A pessoa que faz uma livre escolha pode se basear em uma análise relacionada ao meio ou não, e a escolha que é feita pelo agente pode resultar em ações para beneficiá-lo ou não. As ações resultantes das suas decisões são subordinadas somente a vontade consciente do agente. (Nogueira, Salvador. O livre-arbítrio não existe - Ciência comprova: você é escravo do seu cérebro - Artigo de Salvador Nogueira, publicado na revista Super interessante de setembro de 2008).
Gilles Deleuze (2006) define a expressão, livre-arbítrio, costuma ter conotações objetivistas e subjetivistas ou paradoxais. No primeiro caso as conotações indicam que a realização de uma ação (física ou mental) por um agente consciente não é completamente condicionada por fatores antecedentes. (Gilles Deleuze, Espinoza, Filosofia Prática. Editora Escuta, 2002).
Para Deleuze (2006) no segundo caso indica o ponto de vista da percepção que o agente tem de que a ação se originou da sua vontade. Tal percepção é chamada algumas vezes de experiência da liberdade. A existência do livre-arbítrio tem sido uma questão central na história da filosofia e religião, e mais recentemente na história da ciência. O conceito de livre-arbítrio tem implicações religiosas, morais, psicológicas, filosóficas e científicas.
Segundo Quinson (1999) “Livre-arbítrio - para os cristãos, está na condição que Deus dá ao homem para agir e ser livre, com capacidade para fazer as suas próprias escolhas, inclusive aquelas que não estão de acordo com a vontade divina. O Eterno tem poder para impedir que o homem faça o bem e o mal, no entanto deixa o caminho livre, cabendo ao homem decidir, sendo ele responsável por seus próprios atos”. QUINSON, Marie-Therese. Dicionário cultural do cristianismo. Editora: Loiola, 1999, p.26).
“Na teologia cristã Deus é descrito como onisciente e onipotente. Por causa disso muitas pessoas, cristãs e não cristãs, acreditam não apenas que Deus sabe quais decisões o indivíduo tomará amanhã, mas também que Deus determina tais escolhas. Todavia, proponentes do livre-arbítrio alegam que o conhecimento de um acontecimento é totalmente diferente da causação do acontecimento” QUINSON, Marie-Therese. Dicionário cultural do cristianismo. Editora: Loiola, 1999, p.46).
O comunismo cristão aponta que o livre-arbítrio é a defesa da forma ideal de sociedade, oponentes dessa teoria alegam que o estabelecimento de um sistema comunista em larga escala infringiria o livre-arbítrio das pessoas pela negação a elas da liberdade de tomar certas decisões por si mesmas. Os comunistas cristãos se opõem argumentando que o livre-arbítrio é e sempre será limitado em alguma medida pelas leis humanas QUINSON, Marie-Therese. Dicionário cultural do cristianismo. Editora: Loiola, 1999).
Teólogos católicos defendem a ideia de livre-arbítrio de forma universal, mas geralmente não veem o livre-arbítrio como existindo separadamente ou em contradição com a graça divina. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino escreveram bastante sobre o livre-arbítrio. Agostinho foca no livre-arbítrio nas suas respostas aos maniqueus, e nas limitações de um conceito de livre-arbítrio como negação da graça divina , QUINSON, Marie-Therese. Dicionário cultural do cristianismo. Editora: Loiola, 1999).
A ênfase católica no livre-arbítrio e na graça divina frequentemente é contrastada com a predestinação no cristianismo protestante, especialmente após a contrarreforma. “Na compreensão das diferentes concepções de livre-arbítrio é importante entender as diferentes concepções da natureza de Deus, focando no problema da conciliação entre um Deus onipotente e onisciente e os indivíduos supostamente com livre-arbítrio”. (CUNHA, M. P. S. “Comentários sobre a liberdade e o livre-arbítrio da vontade em Agostinho”. Veritas. Porto Alegre, v. 42, n. 167, 1997, p. 453-503.
Segundo Robinson, “os ensinamentos de Buda sobre o karma são interessantes por causa da sua combinação de causalidade-efeito e livre-arbítrio. Se as coisas fossem totalmente causadas não haveria meio de se desenvolver uma habilidade suas ações seriam totalmente determinadas. Caso não houvesse causalidade alguma as habilidades seriam inúteis, pois as coisas estariam mudando constantemente sem qualquer tipo de rima ou razão entre elas” (Robinson et al., Religião Budista (Buddhist Religions), pág. 20; Filosofia Oriental e Ocidental, vol. 54, p.269).
Na visão Budista existe uma causalidade e por conta que há um elemento de livre-arbítrio que você pode desenvolver habilidades na vida. Você se pergunta: o que está envolvido no desenvolvimento de uma habilidade? Segundo os ensinamentos de Buda, isso significa ser sensível a três predicados: 1) é ser sensível a causas vindo do passado; 2) é ser sensível ao que você está fazendo no momento presente; e 3) é ser sensível aos resultados do que você está fazendo no momento presente como essas três coisas vêm juntas (Robinson et al., Religião Budista (Buddhist Religions), pág. 20; Filosofia Oriental e Ocidental, vol. 54, p.269).
Lang Silveira ( 2010), diz que, “há filósofos que consideram a expressão "livre-arbítrio" absurda. Por exemplo, Hobbes afirma que é um poder definido pela vontade, então não é livre, nem não livre. “É um erro categorial atribuir liberdade à vontade. Locke defende a mesma posição: Se a vontade do homem é livre ou não? A questão ela mesma é imprópria; e é tão insignificante perguntar se a vontade do homem é livre quanto perguntar se seu sono é veloz, ou sua virtude quadrada: a liberdade sendo tão pouco aplicável à vontade, quanto a velocidade do movimento ao seu sono, ou a quadratura à virtude.” (Silveira, Lang. Ensaio de Silveira acerca do Entendimento Humano, livro 2, capítulo 21. 2010, p. 14)”.
“A questão tão peculiar quanta essa: porque é óbvio que as modificações do movimento não pertencem ao sono, nem a diferença de figura à virtude; e quando se considera isso bem, penso que se percebe que a liberdade, a qual é apenas um poder, pertence apenas aos agentes, e não pode ser um atributo ou modificação da vontade, a qual também é apenas um poder. (Silveira, Lang. Ensaio de Silveira acerca do Entendimento Humano, livro 2, capítulo 21, p. 14)”.
Um ato causado pode ser livre ou se algum ato não causado pode ser desejado, tornando o livre-arbítrio um oxímoro? Alguns compatibilistas argumentam que essa alegada falta de fundamentação para o conceito de livre-arbítrio é ao menos parcialmente responsável pela percepção de uma contradição entre determinismo e liberdade. Além disso, de um ponto de vista compatibilista o uso de "livre-arbítrio" em sentido incompatibilista pode ser visto como uso da linguagem exageradamente carregado de conotações emocionais (Silveira, 2010).
Retornando a obra de Savater (2012), um dos melhores trechos do livro refere-se à pergunta que tem dado sentido ao uso dela e que tem indicado supostamente os limites da racionalidade. Destaca a indagação, em que consiste a liberdade?
Tal pergunta está vinculada ao propósito da discussão descrita na introdução como o tema à escolha e a vida. O item mais incisivo, está no título Entre o bom e o mau. O autor cita a disposição prática do ser humano (a capacidade de escolher e até de inventar ações). Portanto, a questão da escolha está relacionada aos múltiplos fatores descritos neste artigo e que serve de inspiração para compreendermos o real significado de nossas escolhas.
Na Doutrina Espírita, Alan Kardec (1868) definiu que no Espiritismo toda causa provoca um efeito e que todo efeito advém de uma causa. Neste contexto, Deus é a causa primária de todas as coisas. Afirma-se que o livre-arbítrio ganha proporções maiores à medida que o grau de evolução (moral e intelectual) do espírito se desenvolve.
Para Kardec, o livre-arbítrio pode ser limitado em determinadas situações, quando isso proporcionar evolução na condição moral e intelectual do espírito, como exemplo, no caso das reencarnações compulsórias, onde o espírito "ocioso" é compelido a reencarnar mesmo contra sua vontade, subjugando-se seu livre-arbítrio. O livre-arbítrio é a liberdade de escolha que temos dentro das limitações que nos impomos por falta de evolução moral e intelectual, ou seja, falta de conhecimento. (Kardec, Alan. Livro dos Espíritos. Capítulo X – IX Lei de Liberdade. FEB, 2007, pp. 499 a 518).
Alan Kardec, argumenta juntos aos espíritos uma série de questionamentos a respeito do Livre-arbítrio. Nesse artigo, dei o destaque para as perguntas, 843, 844, 845 e 846 Descritas a seguir:
843. Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos?
“Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina.”
844. Do livre-arbítrio goza o homem desde o seu nascimento?
“Há liberdade de agir, desde que haja vontade de fazê-lo. Nas primeiras fases da vida, quase nula é a liberdade, que se desenvolve e muda de objeto com o desenvolvimento das faculdades. Estando seus pensamentos em concordância com o que a sua idade reclama, a criança aplica o seu livre-arbítrio àquilo que lhe é necessário.”
845. Não constituem obstáculos ao exercício do livre-arbítrio as predisposições instintivas que o homem já traz consigo ao nascer?
“As predisposições instintivas são as do Espírito antes de encarnar. Conforme seja este mais ou menos adiantado, elas podem arrastá-lo à prática de atos repreensíveis, no
que será secundado pelos Espíritos que simpatizam com essas disposições. Não há, porém, arrastamento irresistível, uma vez que se tenha a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder.”
846. Sobre os atos da vida nenhuma influência exerce o organismo? E, se essa influência existe, não será exercida com prejuízo do livre-arbítrio?
“É inegável que sobre o Espírito exerce influência a matéria, que pode embaraçar-lhe as manifestações. Daí vem que, nos mundos onde os corpos são menos materiais do que na Terra, as faculdades se desdobram mais livremente. Porém, o instrumento não dá a faculdade. Além disso, cumpre se distingam as faculdades morais das intelectuais. Tendo um homem o instinto do assassínio, seu próprio Espírito é, indubitavelmente, quem possui esse instinto e quem lhe dá; não são seus órgãos que lhe dão. Semelhante ao bruto, e ainda pior do que este, se torna aquele que nulifica o seu pensamento, para só se ocupar com a matéria, pois que não cuida mais de se premunir contra o mal. Nisto é que incorre em falta, porquanto assim procede por vontade sua.”
O que se pode concluir sobre o tema do Livre-arbítrio? Muito embora tenham muitas argumentações éticas, sociais, culturais, filosóficas e espirituais. O Homem foi dotado de razão e de Inteligência, e portanto, é um ser que pensa, diferentes dos demais animais que agem por puro instinto. As escolhas de cada um irá fazer será determinante no processo de sua trajetória. A linha entre o bem e o mal é algo suave, é uma fronteira pelo qual você irá perceber dependendo do seu grau evolutivo e progresso espiritual.
A importância da escolha tem um caminho a ser seguido, todavia, esse trajeto irá determinar quem você é ou que será...
Crédito de imagens: www.sites.google.com
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