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A importância da escolha

  • Foto do escritor: José Alberto Tostes
    José Alberto Tostes
  • 2 de out. de 2020
  • 6 min de leitura


Escolher não é algo fácil. No contexto contemporâneo tem sido desafiador definir nossas escolhas. Recentemente, lendo o livro de autoria do espanhol, Fernando Savater, foi possível refletir sobre este tema. Em tese, a escolha está diretamente proporcional a questão do Livre arbítrio. São inúmeros os fatores pelos quais se acredita que possa interferir no ato de escolha. Historicamente o assunto tem sido estudado através dos tempos.

Na contra capa da obra “A importância da escolha”, apresenta um texto que explica a natureza do processo de escolha. “Liberdade é mesmo a razão e o principal sentimento de nossas vidas? Somos realmente livres para decidirmos sobretudo a hora que quisermos? Estas e outras importantes questões são discutidas no livro, de Savater. Na primeira parte, o autor fala sobre a antropologia, a liberdade do ser humano e suas escolhas de acordo com contextos históricos e culturais. Na segunda, discorre sobre as escolhas que fizemos ou poderíamos ter feito. O livro é um verdadeiro exercício para continuar a pensar e refletir.”

Porém, além desta obra é interessante perceber o conceito de livre arbítrio e como é visto de diversas formas em várias doutrinas. O Livre-arbítrio ou livre-alvedrio são expressões que denotam a vontade livre de escolha, as decisões livres. O livre arbítrio, que quer dizer, o juízo livre, é a capacidade de escolha pela vontade humana (Nogueira, 2008).

Para Nogueira (2008) o livre arbítrio é uma crença religiosa ou uma proposta filosófica que defende que a pessoa tem o poder de decidir as suas ações e pensamentos segundo o seu próprio desejo e crença. A pessoa que faz uma livre escolha pode se basear em uma análise relacionada ao meio ou não, e a escolha que é feita pelo agente pode resultar em ações para beneficiá-lo ou não. As ações resultantes das suas decisões são subordinadas somente a vontade consciente do agente. O livre-arbítrio não existe - Ciência comprova: você é escravo do seu cérebro - Artigo de Salvador Nogueira, publicado na revista Super interessante de setembro de 2008

Gilles Deleuze (2006) define a expressão, livre-arbítrio, costuma ter conotações objetivistas e subjetivistas ou paradoxais. No primeiro caso as conotações indicam que a realização de uma ação (física ou mental) por um agente consciente não é completamente condicionada por fatores antecedentes. Gilles Deleuze, Espinoza, Filosofia Prática

No segundo caso indica o ponto de vista da percepção que o agente tem de que a ação originou-se na sua vontade. Tal percepção é chamada algumas vezes de "experiência da liberdade". A existência do livre-arbítrio tem sido uma questão central na história da filosofia e religião, e mais recentemente na história da ciência. O conceito de livre-arbítrio tem implicações religiosas, morais,psicológicas, filosóficas e científicas.

Segundo Quinson (1999) Livre-arbítrio - para os cristãos, está na condição que Deus dá ao homem para agir e ser livre, com capacidade para fazer as suas próprias escolhas, inclusive aquelas que não estão de acordo com a vontade divina. O Eterno tem poder para impedir que o homem faça o bem e o mal, no entanto deixa o caminho livre, cabendo ao homem decidir, sendo ele responsável por seus próprios atos. QUINSON, Marie-Therese (1999). Dicionário cultural do cristianismo

Na teologia cristã Deus é descrito como onisciente e onipotente. Por causa disso muitas pessoas, cristãs e não cristãs, acreditam não apenas que Deus sabe quais decisões o indivíduo tomará amanhã, mas também que Deus determina tais escolhas. Todavia, proponentes do livre-arbítrio alegam que o conhecimento de um acontecimento é totalmente diferente da causação do acontecimento (Quinson, 1999).

O comunismo cristão aponta que o livre-arbítrio é a defesa da forma ideal de sociedade, oponentes dessa teoria alegam que o estabelecimento de um sistema comunista em larga escala infringiria o livre-arbítrio das pessoas pela negação a elas da liberdade de tomar certas decisões por si mesmas. Os comunistas cristãos se opõem argumentando que o livre-arbítrio é e sempre será limitado em alguma medida pelas leis humanas (Quinson, 1999).

Alan Kardec (1868) define que no Espiritismo afirma toda causa provoca um efeito e que todo efeito advém de uma causa. Neste contexto, Deus é a causa primária de todas as coisas. Afirma-se que o livre-arbítrio ganha proporções maiores à medida que o grau de evolução (moral e intelectual) do espírito se desenvolve.

Para Kardec, o livre-arbítrio pode ser limitado em determinadas situações, quando isso proporcionar evolução na condição moral e intelectual do espírito, como exemplo, no caso das reencarnações compulsórias, onde o espírito "ocioso" é compelido a reencarnar mesmo contra sua vontade, subjugando-se seu livre-arbítrio. O livre-arbítrio é a liberdade de escolha que temos dentro das limitações que nos impomos por falta de evolução moral e intelectual, ou seja, falta de conhecimento.

Teólogos católicos defendem a ideia de livre-arbítrio de forma universal, mas geralmente não veem o livre-arbítrio como existindo separadamente ou em contradição com a graça divina. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino escreveram bastante sobre o livre-arbítrio. Agostinho foca no livre-arbítrio nas suas respostas aos maniqueus, e nas limitações de um conceito de livre-arbítrio como negação da graça divina (Quinson, 1999). QUINSON, Marie-Therese (1999). Dicionário cultural do cristianismo

A ênfase católica no livre-arbítrio e na graça divina frequentemente é contrastada com a predestinação no cristianismo protestante, especialmente após a contrarreforma. Na compreensão das diferentes concepções de livre-arbítrio é importante entender as diferentes concepções da natureza de Deus, focando no problema da conciliação entre um Deus onipotente e onisciente e os indivíduos supostamente com livre-arbítrio.

Thanissaro Bhikkhu ensina:"os ensinamentos de Buda sobre o karma são interessantes por causa da sua combinação de causalidade-efeito e livre-arbítrio. Se as coisas fossem totalmente causadas não haveria meio de se desenvolver uma habilidade suas ações seriam totalmente determinadas. Caso não houvesse causalidade alguma as habilidades seriam inúteis, pois as coisas estariam mudando constantemente sem qualquer tipo de rima ou razão entre elas. Robinson et al., Religião Budista (Buddhist Religions), pág. xx; Filosofia Oriental e Ocidental, vol. 54, ps 269f

Na visão Budista existe uma causalidade e por conta que há um elemento de livre-arbítrio que você pode desenvolver habilidades na vida. Você se pergunta: o que está envolvido no desenvolvimento de uma habilidade? Segundo os ensinamentos de Buda, isso significa ser sensível a três predicados: 1) é ser sensível a causas vindo do passado; 2) é ser sensível ao que você está fazendo no momento presente; e 3) é ser sensível aos resultados do que você está fazendo no momento presente como essas três coisas vêm juntas.

Vasconcelos (2004), diz que, “há filósofos que consideram a expressão "livre-arbítrio" absurda. Por exemplo, Hobbes afirma que é um poder definido pela vontade, então não é livre, nem não livre. “É um erro categorial atribuir liberdade à vontade. Locke defende a mesma posição: Se a vontade do homem é livre ou não? A questão ela mesma é imprópria; e é tão insignificante perguntar se a vontade do homem é livre quanto perguntar se seu sono é veloz, ou sua virtude quadrada: a liberdade sendo tão pouco aplicável à vontade, quanto a velocidade do movimento ao seu sono, ou a quadratura à virtude.” Vasconcelos, V.V. (2004), As leis da natureza e a moral em Hobbes, Universidade Federal de Minas Gerais.

“A questão tão peculiar quanta essa: porque é óbvio que as modificações do movimento não pertencem ao sono, nem a diferença de figura à virtude; e quando se considera isso bem, penso que se percebe que a liberdade, a qual é apenas um poder, pertence apenas aos agentes, e não pode ser um atributo ou modificação da vontade, a qual também é apenas um poder. (Silveira, Lang. Ensaio de Silveira acerca do Entendimento Humano, livro 2, capítulo 21, p. 14)”.

Um ato causado pode ser livre ou se algum ato não causado pode ser desejado, tornando o livre-arbítrio um oxímoro? Alguns compatibilistas argumentam que essa alegada falta de fundamentação para o conceito de livre-arbítrio é ao menos parcialmente responsável pela percepção de uma contradição entre determinismo e liberdade. Além disso, de um ponto de vista compatibilista o uso de "livre-arbítrio" em sentido incompatibilista pode ser visto como uso da linguagem exageradamente carregado de conotações emocionais (Silveira, 2010).

Retornando a obra de Savater (2012), um dos melhores trechos do livro refere-se à pergunta que tem dado sentido ao uso dela e que tem indicado supostamente os limites da racionalidade. Destaca a indagação, em que consiste a liberdade? Tal pergunta está vinculada ao propósito da discussão descrita na introdução como o tema à escolha e a vida. O item mais incisivo está no título Entre o bom e o mau. O autor cita a disposição prática do ser humano (a capacidade de escolher e até de inventar ações). Portanto, a questão da escolha está relacionada aos múltiplos fatores descritos neste artigo e que serve de inspiração para compreendermos o real significado de nossas escolhas.

Fonte: www.travessa.com.br


 
 
 

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