O suicídio em tempos de pandemia
- José Alberto Tostes
- 11 de mai. de 2020
- 7 min de leitura
A primeira versão desse artigo foi escrita em julho de 2019, de lá para cá, houve um aumento considerável de perdas de vidas, principalmente de jovens no Amapá e no Brasil. O tema ainda é um tabu entre muitas famílias, muito embora, a informação circule com maior velocidade através das mídias sociais, todavia, ainda há muitos desencontros em saber lidar com a realidade dos fatos.
Com a crise da pandemia mundial provocada pelo COVID-19, o tema do suicídio ficou em segundo plano, situação que preocupa a todos pela gravidade do que representa para as famílias, e principalmente as implicações espirituais para o espirito que se suicidou.
Há uma recomendação atual a OMS (Organização Mundial de Saúde) para que não seja divulgado os casos de suicídio em plena pandemia, esse fato, passou a circular na última semana, tal preocupação, deve-se a fato de não criar um precedente perigoso em relação ao aumento de casos no mundo por conta dos efeitos provocados pelo COVID-19.
O receio na divulgação de dados que auxiliem na construção de processos no tratamento de saúde de pessoas em crise, pode ser questionável ou não, pois ainda se dá um tratamento puramente físico para o tema, restringindo as questões de natureza espiritual.
Na obra de Alírio Cerqueira, ele trata da saúde espiritual, e assim descreve que: “apesar da abundante oferta de medicamentos, continuamos doentes e ansiosos. Novas doenças aparecem e outras milenares ressurgem com toda força, em um momento em que a medicina conta com recursos avançadíssimos de diagnóstico e tratamento. A causa das doenças, mentais ou físicas, está no espírito doente que ainda somos. Este livro aborda as causas profundas das doenças do ser humano, visando desenvolver a sua cura profunda, de modo a contribuir com todos aqueles que buscam desenvolver a saúde integral, que envolve o corpo, a mente e o Espírito.” Ver a obra de Alírio Cerqueira. Saúde Espiritual. Editora Espiritizar, 2017, p. 80 a 98.
O que está descrito na obra de Alírio Cerqueira (2017) , atinge principalmente a juventude, o suicídio de jovens entre 16 a 30 anos é cada vez mais recorrente. Mas, o que leva alguém em circunstâncias desesperadoras a tomar uma medida tão extrema como essa? A primeira abordagem do tema passa essencialmente pelo fato de que ainda nos voltamos na essência para as questões exclusivamente materialistas, muitas famílias, creem que dando tudo o que um jovem precisa, será suficiente para a atender as suas necessidades, na mesma medida, há interpretação inversa para os jovens mais pobres e que supostamente estariam mais vulneráveis diante das dificuldades materiais.
Temos a oportunidade inestimável de reencarnar e trilhar por um caminho diferente em prol de nosso aperfeiçoamento espiritual, entretanto são inúmeros os obstáculos a serem transpostos, um deles é dar o devido valor à vida. Muitos acreditam que tirando a própria vida tudo se acabará como mágica, não é bem assim, como vamos apresentar nesse artigo, a complexidade é bem maior, pois trata-se de como alguém usou de forma inadequada o seu livre-arbítrio. Ver no Livro dos Espíritos, o item da Lei de Liberdade.
Segundo (OMS, 2000) o suicídio é considerado um transtorno multidimensional, resultado de uma complexa interação entre fatores ambientais, sociais, fisiológicos, genéticos, biológicos. Esse fenômeno configura-se como problema de saúde pública de difícil prevenção e controle, pois nos remete a considerar a uma série de requisitos como: melhores condições de vida possíveis para a criação das crianças e dos jovens; um efetivo tratamento dos transtornos mentais; controle dos fatores de risco ambientais, dentre outros.
Acrescentou-se ao longo dos anos as questões econômicas para explicar as causas dos elevados índices de suicídio de jovens. Nas variáveis definidas pela OMS, a questão espiritual é praticamente descartada, pois sem efetivamente se tratar do espírito a avaliação será única e exclusivamente pela ótica das visões puramente materialistas.
No estado do Amapá a preocupação é maior ainda, pois despertou de vários segmentos a realização de eventos, grupo sociais, entidades representativas em compreender as causas decorrentes desse ato. Dados divulgados pela Superintendência de Vigilância em Saúde do Amapá revela que nos últimos três anos, as tentativas de suicídio no Amapá cresceram em 308%. O assunto, considerado delicado e preocupante pelas autoridades. Os números, 70% dos casos de tentativas são na capital, mas, o número cresceu também em municípios como Calçoene e Oiapoque. Foram 60 registros de tentativas em 2016 e 117 em 2017. Em todo o estado, 40 óbitos por suicídio ocorreram em 2017.
Alan Kardec no (Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. V. item.16.) “destaca que a incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio: Quando se veem homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçarem por provar aos que os ouvem ou leem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão tentando convencê-los de que, se são infelizes, o melhor que podem fazer é matar-se? Que lhes poderia dizer para desviá-los dessa consequência? Que compensação podem oferecer-lhes?
Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se segue concluir que, se o nada é o único remédio heroico, a única perspectiva, imediatamente, e não mais tarde, para sofrer por menos tempo. A propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a ideia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se fazem seus defensores assumem terrível responsabilidade.
Com o Espiritismo a dúvida já não é possível, modificando-se, portanto, a visão que se tem da Vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para além do túmulo, mas em condições muito diversas. Daí a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; daí, numa palavra, a coragem moral de acordo com Kardec, registrado nas anotações do Livro dos Espíritos.
Convém salientar que, no ano, de 1939, Chico Xavier, psicografou através do Espirito de Emannuel, o livro: O Consolador, toda a narrativa é dedicada a descrever que o suicídio é uma enfermidade da Alma, somente em 1945, a OMS define as principais causas decorrentes para as causas do suicídio, entretanto, em nenhuma delas considera a variável espiritual.
O suicídio tem várias causas, e a principal delas é a enfermidade da alma, pois não é comum para maioria das famílias brasileiras estarem atentas ao comportamento de seus filhos. A influenciação espiritual começa a gerar uma série de efeitos em cadeia, tais sentimentos como fobia social, isolamento, perda de rendimento escolar, como consequência a maioria dos jovens começa a entrar silenciosamente em um processo depressivo, sem que alguém da família se de conta da gravidade do problema.
No mundo material é cada vez mais comum, o incentivo a competição, se é mais feio ou feia? Belo ou bela? A posição social, se tem recursos para sair com os amigos, quem mais tem amigos nas redes sociais, todavia, um dos problemas mais importantes tem sido o reduzido diálogo entre pais e filhos.
A sociedade dos dias atuais ainda não aprendeu a conviver com as redes sociais. Por incrível que possa parecer nem todo jovem está preparado para lidar com o turbilhão de informações que estão presentes nas redes, existe todo tipo de influência, positiva e negativa, contribuindo para o estado anímico de um jovem. O suicídio não pode ser tratado tão somente com ações paliativas é necessário um amplo esclarecimento por parte de toda a sociedade.
Na questão 956 do Livro dos Espíritos diz o seguinte: Aqueles que, não podendo suportar a perda dos entes queridos, se matam na esperança de se juntarem a eles atingem o seu objetivo? “O resultado que colhem é muito diverso do que esperavam: em vez de se unirem ao objeto de sua afeição, dele se afastam por mais tempo, já que Deus não pode recompensar esse ato, nem o insulto que lhe fazem ao duvidarem da sua providência. Pagarão esse instante de loucura com aflições ainda maiores do que as que pensavam abreviar e não terão, para compensá-las, a satisfação que esperavam”.
Na Questão 957. Quais são, em geral, com relação ao estado do Espírito, as consequências do suicídio? “As consequências do suicídio são muito diversas. Não há penas fixadas e, em todos os casos, são sempre relativas às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência à qual o suicida não pode escapar: o desapontamento. Ademais, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam sua falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam”.
Portanto, as questões 956 e 957 do Livro dos Espíritos deixam claro que a relação entre causa e efeito quando se trata de perceber as consequências do suicídio, as aflições para a família são imensas por conta dos laços da vida reencarnatória.
Chico Xavier(2016) pelo espírito de Emmanuel afirma: “que a melhor prevenção contra o suicídio é quando a ideia de suicídio, porventura, te assome à cabeça, reflete, antes de tudo, na infinita bondade de Deus, que te instalou na residência planetária, solidamente estruturada, a fim de sustentar-te a segurança no Espaço Cósmico. Em seguida, ora, pedindo socorro aos Mensageiros da Providência Divina. Medita no Amor e na necessidade daqueles corações que te usufruem a convivência. Ainda que não lhes conheças, de todo, o afeto que te consagram e embora a impossibilidade em que te reconheces para medir quanto vales para cada um deles, é razoável ponderares quantas lesões de ordem mental lhes causarias com a violência praticada contra ti mesmo (XAVIER, Francisco Cândido, 2016. Pronto-socorro. Cap. 30. p. 21 a 59).”
Se dividirmos em duas partes os males da Vida, uma constituída dos males que o homem não pode evitar, outra das tribulações de que ele mesmo é a causa principal, pela sua incúria ou por seus excessos [...], ver-se-á que a segunda excede em grande número a primeira. Torna-se, pois, bastante evidente que o homem é o autor da maior parte das suas aflições, das quais se pouparia se agisse sempre com prudência e sabedoria. […] A prece é recomendada por todos os Espíritos. Renunciar à prece é desconhecer a bondade de Deus; é recusar, para si, a sua assistência e, para os outros, abrir mão do bem que lhes pode fazer (Cap. XXVII, item 12).
Portanto, esse tema é do interesse geral da sociedade, a construção de políticas públicas de atendimento na área da saúde, é importante, todavia, é preciso envolver a sociedade, mas principalmente as famílias que têm um papel importante no processo de educação espiritual não importa em qual o credo. A maior parte da juventude brasileira está afastada de qualquer prática religiosa e muito menos de tratar da alma. O suicídio resulta em dores físicas e morais para toda a família do envolvido, cria laços de comprometimentos por uma vida ou por várias vidas.
No caso da pandemia provocada pelo COVID-19, se acelera o medo e o desespero diante de circunstâncias de um futuro remoto e duvidoso, a falta de trabalho e o desamparo aceleram os estágios de influenciação espiritual. Desde que começou o isolamento social, existe uma preocupação correta com a proteção física, principalmente de profissionais da área da saúde, todavia, o preparo psicológico e espiritual é restrito.
As estatísticas de suicídio nesse período de pandemia não estão sendo divulgadas, porém, é provável que pelas condições de forte influência espiritual e as imensas fragilidades físicas de milhares de pessoas que os dados estejam elevados. Creio que a omissão das informações não auxiliam a tratar de maneira mais eficaz o problema. Precisamos trabalhar mais o valor da vida, algo crucial para o aperfeiçoamento moral no processo reencarnatório.
Créditos de imagem. Fonte: www.vittude.com
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