O conhecimento é a chave da transformação espiritual
- José Alberto Tostes
- 9 de mai. de 2020
- 5 min de leitura
Eu creio que um dos aspectos mais importantes da vida, é a construção do conhecimento, não o conhecimento individualizado, mas aquele que é colocado em favor do bem maior, a coletividade. É incrível como vivemos situações que são intensamente contraditórias, nunca se colocou tantas ferramentas a favor do desenvolvimento do homem, todavia, boa parte desse conhecimento é canalizado para ações maléficas em desfavor da sociedade.
O homem em tese, é um ser pensante, tem raciocínio lógico, difere dos demais animais, exatamente pela questão cognitiva do desenvolvimento da inteligência. Tenho a impressão e a percepção que, muitas pessoas utilizam a palavra educação apenas como um ensaio, sem com isso, agirem em favor de reais mudanças e transformações necessárias para o nosso processo de viver em comum.
O ser humano nesse caráter competitivo materialista, vive imensamente o desejo de comparar, fazer analogias, quem é o melhor da história, da década, do ano ou do momento. O parâmetro do mundo materialista sobre êxito e sucesso, é puramente quantitativo, se o sujeito tem bom emprego, uma excelente casa ou um carro maravilho, tal ideia, é incentivada e estimulada pelos pais e pela própria sociedade, se você avança no suposto conhecimento sistematizado formal, a maior recompensa é ser reconhecido como o melhor.
Na minha percepção, se mensurarmos para o ser humano um conjunto de itens prioritários durante o trajeto de uma vida, a questão espiritual provavelmente está nas últimas posições. Quando você é criança, deseja chegar na juventude, quando está na juventude, deseja ser um adulto, e quando amadurece, começa a ter desejos de ser jovem novamente, quer retardar o máximo na sua cabeça, e no corpo, a ideia de que vai ficar velho.
Tais sentimentos se acentuam exatamente porque não compreendemos o significado da velhice do ponto de vista espiritual, temos medo de envelhecer porque todo o conhecimento aprendido em uma vida, foi exclusivamente para atender os desejos materiais, de buscar o sucesso, porém, quando você precisa entender o que representa a velhice, toma esse fato como um castigo, por acreditar que as dores chegam e as enfermidades são uma tragédia.
O Evangelho Segundo Espiritismo evidencia que, é no ambiente familiar que encontramos os pais aprendendo a dedicar-se ao próximo, na figura dos filhos queridos e necessitados dos seus cuidados para darem os primeiros passos na sua jornada reencarnatória; encontramos irmãos no aprendizado do respeito, da divisão, do cuidado; primos compartilhando das descobertas e dos desafios próprios da juventude desafiadora; encontramos ainda aqueles mais velhos nesta experiência existencial no papel de pais, avós, tios, em mais avançada idade.
Ao longo dos anos como professor da Universidade Federal do Amapá, tive a felicidade de participar de vários eventos pelo Brasil. Certa vez, encontrei uma pessoa famosa no aeroporto de Brasília, fui cumprimentá-la pelo seu trabalho e dedicação na minha área de formação. Naquele momento, a mesma se queixou de algumas dores e o cansaço da viagem, entre uma ideia e outra, a pessoa diz para mim: “ A velhice é uma tragédia!”, nos despedimos, e fui para o portão para embarcar para Macapá, já no interior do avião, fiquei refletindo sobre aquela frase.
Seria a velhice uma tragédia, como disse aquela pessoa? Logo pensei, é evidente que não, esse estágio da vida tem que ser de outros aprendizados, onde a sabedoria é mais direta e as palavras são mais afetivas e amorosas, só podemos saber o verdadeiro significado da velhice, se desde cedo, tivermos oportunizado o conhecimento que, vai além do que é exigido em sua formalidade, o conhecimento espiritual.
Naquele momento no avião, acessei o arquivo no meu celular do Evangelho Segundo Espiritismo para compreender melhor a minha inquietação, de acordo com Kardec, a compreensão é que somos Espíritos em processo evolutivo, com conquistas morais e espirituais alcançadas, com muito mais a desenvolver, ainda na infância espiritual de nossa vida maior. Através desse entendimento, podemos perceber mais facilmente nosso próximo como um irmão de caminhada, que tem tantas virtudes quanto defeitos, assim como nós os possuímos e que precisa de auxílio e compreensão, como também necessitamos. Naquele momento, essa reflexão funcionou com um balsamo para compreender melhor ainda as ideias a partir da visão de Kardec. Kardec, Allan. O Evangelho Segundo Espiritismo. Brasília: FEB, 2013. Cap. XVI, irem 3.
Avançando na leitura do capítulo, me dei conta que, Kardec nos mostra que a chave da transformação espiritual deve começar cedo, esse aspecto vai auxiliar mais profundamente, o valor da vida, “nascemos, crescemos e perecemos”. O apego as coisas materiais se acentuam ao longo de uma vida, porque não demos a oportunidade de experimentar aquele conhecimento que transforma. Kardec, Allan. O Evangelho Segundo Espiritismo. Brasília: FEB, 2013.
Vivemos tempos difíceis em todo o Planeta Terra, pois são inúmeras as preocupações com os mais idosos por conta exatamente das fragilidades físicas, onde os mais novos tem o dever de cuidar, mas muitos não conseguem, porque lhes falta o acesso do conhecimento espiritual.
Os próprios idosos se veem em condições desesperadores por não compreenderem a ordem natural dos acontecimentos. Por isso, o Espiritismo também convida o idoso a refletir sobre a transitoriedade da matéria e a perenidade do Espírito, de tal sorte que é natural o desgaste do corpo físico, devendo o tempo de vida física ser aproveitado para atender os compromissos materiais, mas, sobretudo os espirituais, morais, sabendo, ainda, que haverá, outras sucessivas reencarnações. A Doutrina Espírita é a doutrina que fortalece e amplia o nosso entendimento acerca do amor ao próximo ensinado e vivenciado pelo Mestre Jesus. O Livro dos Espíritos. Brasília: FEB, 2013. Pt 3, cap. III, item 685 a e 685ª.
Kardec, evidencia através da obra codificada que, encontramos na família o grande laboratório caracterizado pela vivência cotidiana com irmãos nossos das mais diversas características e em várias posições de parentesco, como pais, filhos, irmãos, tios, avós, entre outros. Nesse precioso laboratório, temos o ensejo de vivenciar experiências valiosas para o exercício do verdadeiro amor fraternal pregado por Jesus, em consonância com a Lei Maior, que é, justamente, a Lei do Amor. Evangelho Segundo Espiritismo. Brasília: FEB, 2013. Cap. XVI, item 3.
Segundo Trigueiros (2017) o idoso merece e necessita atenção e cuidados especiais pela fase de vida em que se encontra. Após uma existência de trabalho, dedicação ao cuidado de filhos, sobrinhos, entre muitas venturas e desventuras experienciadas, encontra agora o esgotamento das forças físicas e, na grande maioria das vezes, também o esgotamento de possibilidades de realização profissional e social.
André Trigueiro aborda a questão, tratando dos fatores de risco de suicídio, entre os quais o grupo dos idosos apresenta elevado índice, afirmando que: "O envelhecimento impõe a necessidade de saber lidar com as perdas. Do ponto de vista físico, vem a perda progressiva da saúde, da musculatura, da memória, da audição e visão, e das melhores condições de navegabilidade em um corpo que vai inspirando cada vez mais cuidados.(…) " TRIGUEIROS, André. Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo. São Bernardo do Campo: Correio Fraterno, 2017. Cap.4.
Portanto, nesse momento em que atravessamos, devemos compreender o amparo que deva existir para com os idosos, esse fato, requer desprendimento, paciência, fé, amor e fraternidade, inclusive diante da possibilidade da perda física. Sendo assim, porque então, o conhecimento é a chave da transformação espiritual? Porque precisamos durante a trajetória de uma vida, dar prioridade para as questões do espírito.
Precisamos na nossa vida, do equilíbrio entre o material e a necessidade de cuidar do espiritual, para quando chegar mais próximo de regressar a Pátria Espiritual, esse desprendimento, seja melhor compreendido, e as dores sejam mais passageiras, o conforto virá, da essência daquilo que foi semeado durante todo o processo reencarnatório.
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