A sociedade da competição
- José Alberto Tostes
- 19 de jun. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 20 de jun. de 2020
A sociedade dos dias atuais está imersa no culto a personalidade e a vaidade, prioriza-se escolher ou dizer: Quem é melhor? Quem está à frente? A competição desenfreada só alimenta sentimentos que nos afastam do coletivo, de viver em comunidade. Esse processo tem contribuído para que boa parte, seja supostamente preterida, se ache menos capaz ou “inferior”. Com relação aos aspectos espirituais, a Doutrina Espírita através dos Livro dos Espíritos nos apresenta uma série de questões importantes para realizarmos as nossas reflexões cotidianas.
Como vamos trabalhar a questão do orgulho e do egoísmo? Na pergunta 913 do Livro dos Espíritos diz o seguinte: Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? “Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.”
A resposta para a pergunta 913, nos mostra o quanto essa condição é profunda, e ainda persiste em diversos obstáculos em relação ao nosso aperfeiçoamento. A sociedade contemporânea busca pela condição, de quem é o melhor, se tornou uma obsessão por conta da vaidade que os homens apregoam para os seus filhos, tal sentimento, só acirra o egoísmo, a vaidade. É exatamente a cada final de ano onde se escolhe os melhores que aparece esse sentido de competição mais intenso.
A sociedade atual com o advento da multiplicação das redes sociais tem sido bastante narcisista, um dos fatores mais conhecidos do público, é o culto ao corpo, é avassalador como milhares, milhões de pessoas são seduzidas a acreditarem que a única condição que lhe resta, é manter a aparência estética do corpo, retardar o possível os traços do envelhecimento, mesmo entre os mais jovens, a corrida pela manutenção da beleza suprema ficou algo doentio, ver milhares garotas jovens, entre 15 a 22 anos completamente anoréxicas é a imagem que espelha esse cenário.
Então, o que significa ser o melhor? Sem dúvida, que é importante o reconhecimento pelo trabalho bem feito, realizado com maestria e dedicação, todavia, não se pode contribuir para incentivar um tipo de competição que não agrega sentimento coletivo. Na pergunta 914, amplia esse tema com a seguinte indagação: Fundando-se o egoísmo no sentimento do interesse pessoal, bem difícil parece extirpá-lo inteiramente do coração humano. Chegar-se-á a consegui-lo? “À medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais. Depois, necessário é que se reformem as instituições humanas que o entretêm e excitam. Isso depende da educação.”
A resposta dos Espíritos para a pergunta 914, evidencia que há duas condições para esse propósito, o primeiro, é da condição humana que incentiva e dá valor a individualidade, e a segunda, é do próprio ser reencarnado que acredita somente nas paixões exclusivamente materialistas, se deixa tomar por sentimentos adversos. A condição do melhor não é somente incentivada pelo processo competitivo, mas também pela condição, quem é mais popular, mais famoso, bonito ou acessível. O Brasil tem um dos maiores índices de suicídio no mundo e no Amapá, tais valores são maiores ainda.
A questão não é quem é o melhor, mas quem contribui de forma mais efetiva com a construção coletiva. As famílias ainda não se deram conta do objetivo maior pelos quais todos nós reencarnamos. A reencarnação é uma Benção de Deus, nos proporciona mais uma chance de redenção para o nosso aperfeiçoamento moral no Planeta Terra. Quando se pergunta a alguém sobre o seu êxito e sucesso, todo o teor está relacionado a questão 100% material? Quanto isso? Quanto daquilo? Não nos damos conta de perguntar sobre os princípios espirituais, se a mesma pessoa está bem.
A falta de preocupação com as questões espirituais tem sido um fator cada vez mais preocupante, pois todo o sistema de saúde está voltado para as questões da saúde do corpo e não para a saúde espiritual. Os sofrimentos da alma são cada vez mais constantes e afetam diretamente a saúde do corpo. Alirio Cerqueira em sua trilogia: Saúde Espiritual explica as causas que nos afetam diretamente, a nossa saúde espiritual está abalada e mostra que nos preocupamos unicamente com os efeitos e não com as causas que nos afetam diretamente.
Mais adiante na pergunta 915 do Livro dos Espíritos Kardec, indaga o seguinte: Por ser inerente à espécie humana, o egoísmo não constituirá sempre um obstáculo ao reinado do bem absoluto na Terra? “É exato que no egoísmo tendes o vosso maior mal, porém ele se prende à inferioridade dos Espíritos encarnados na Terra e não à Humanidade mesma. Ora, depurando-se por encarnações sucessivas, os Espíritos se despojam do egoísmo, como de suas outras impurezas. Não existirá na Terra nenhum homem isento de egoísmo e praticante da caridade? Há muito mais homens assim do que supondes. Apenas, não os conheceis, porque a virtude foge à viva claridade do dia. Desde que haja um, por que não haverá dez? havendo dez, por que não haverá mil e assim por diante?”
A resposta para a questão 915, mostra, o quanto ainda teremos que avançar nesse objetivo de alcançar o despojamento em relação ao egoísmo. O sentido da caridade como conhecemos, passa essencialmente em compreendermos como essa condição passa pelo nosso desenvolvimento moral, em primeira condição, alguém que pede auxílio é sempre material, todavia, a segunda condição sempre terá que ser moral. Avançar, significa dizer, muitas vezes vamos cair, mas vamos nos levantar, e assim sucessivamente.
Então, a competição estimulada, incentivada com o claro objetivo de envaidecer o ego dos melhores, não é a melhor condição para evoluirmos. O objetivo não é dizer quem é melhor ou pior, mas de contribuir para que cada um, dentro de suas possibilidades, possa avançar gradualmente na sua melhoria, seja no plano pessoal, profissional e espiritual. Quanto mais incentivamos a individualidade, mais a sociedade perde o seu sentido coletivo, porque os sentimentos que ficam, é a mágoa, o rancor, e a indiferença.
Na questão 917. Qual o meio de destruir-se o egoísmo? “De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde libertar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas. Quando, bem compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais. O egoísmo assenta na importância da personalidade. Ora, o Espiritismo, bem compreendido, repito, mostra as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante da imensidade. Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a às suas legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo.
A resposta dos Espíritos deixa evidente que, muito embora, a reencarnação seja individual, nós estamos inseridos em um conjunto de relações que envolvem as famílias, que nos acolhemos no mundo espiritual para que pudéssemos avançar. Vamos pensar melhor sobre as questões que nos levam a incentivar nossos filhos a buscarem serem os melhores, a condição, não é ser o maior, mas sim, ser um homem de bem para sociedade.
A competição desenfreada só “alimenta” o ego das pessoas, envaidece aqueles que acreditam que o único benefício é material. O incentivo de hoje para esse tipo de ação, contribui sem sombra de dúvida para um contexto, bem desfavorável no dia de amanhã ou até mesmo, para uma condição que vai além dessa vida, o que pode comprometer até mesmo outras vidas.
Crédito de imagens: www.informamidia.com.br
Comentarios