A morte não é um deboche
- José Alberto Tostes
- 22 de ago. de 2020
- 4 min de leitura
A música de Renato Russo “Que país é esse!” parece cada vez mais se corporificar na essência do que é o Brasil nos dias de hoje. Milhões de brasileiros e brasileiras dão demonstrações diárias de falta de fé, baseiam suas convicções em atos inapropriados, incitam o conflito, a violência e a intolerância. As redes sociais são meios de informação global, mas são utilizadas como trincheiras para linchamentos virtuais extremos, tudo já se disseminou nesse país em relação ao vírus que circula por todo o Planeta Terra nesse momento.
O Brasil é um país com uma natureza maravilhosa, uma biodiversidade fantástica, e um povo acolhedor, todavia, nem esses requisitos são suficientes para explicar as causas recorrentes, de como o brasileiro se coloca diante das adversidades. A grave situação que assola o mundo global não é suficiente para se compreender o que está se passando. Verdadeiramente temos um problema grave de comportamento.
Longe de discussões políticas partidárias ou ideológicas, o problema atual exige desprendimentos, o que isso significa para todo o Planeta? Geralmente muitos dos problemas relacionados as epidemias são geradas pelo próprio homem, a ganância, a cobiça e o desejo de ganhar milhões e bilhões acabam cegando a todos aqueles que acreditam piamente que o mundo em que vivemos é apenas um negócio, surgem assim, as teorias conspiratórias e apocalípticas, quem vai ganhar com a crise?
Na internet tem circulado todos os tipos de fake, brincadeiras, deboches e outros mecanismos que iludem e enganam a população quanto a gravidade do problema que ora enfrentamos. Como é possível que uma grande parte da sociedade se condicione a acreditar que somos diferentes e imunes aos problemas? Não somos, pelo contrário, talvez, o Brasil junto com outros países com maiores dificuldades estruturais sejam os que mais apresentem riscos extremos. A estrutura da área de saúde no país é precária e a maior parcela da população vive em locais inóspitos.
No passado, tais crises sempre existiram, entretanto, somente circulavam através de jornais impressos e na televisão, praticamente limitada na divulgação dos telejornais, portanto, existia a crise e as condições eram graves, mas em vários lugares remotos, sequer chegava a informação. Hoje em dia, vive-se um fenômeno, em frações de segundos as informações se multiplicam pela rede mundial de computadores, pode ser bom ou ruim dependendo do objetivo pretendido.
O que se vê é a ignorância do ser humano em entender o sentido da palavra humanidade, no caso brasileiro, milhares de pessoas vão as praias e outros milhares vão apoiar manifestações políticas, indo em direção oposta de tudo o que se tem recomendado. Muitos empresários são movidos pelo sentido puramente do momento oportuno, elevam os preços, tornando inacessível os produtos necessários para a população.
Como diz a composição de Renato Russo, “ Que país é esse?” Debocha da morte como se tal condição não existisse. O Brasil de modo geral tem visto a crise da pandemia do Coronavírus como se fosse algo distante e alheio, que nunca vai alcançar os índices alarmantes.
O Brasil está entre os países com as piores condições de distribuição de renda do Planeta, as condições de moradias e saneamento básico são trágicas . A saúde está sempre em crise porque os recursos são mal aplicados, a corrupção é um dos fatores decorrentes de um cenário cada vez mais caótico. Temos múltiplas dificuldades para nos organizarmos de forma coletiva, não para defender um partido político, uma agremiação esportiva ou uma única pessoa que irá dirigir o país, temos dificuldade de organizarmos as atividades de nossa rua, do bairro ou da cidade.
As questões morais que assolam o Brasil mostram uma Nação raivosa, onde uma parte da população defende o confronto, o conflito, e pedindo medidas assustadoras, como a volta da Ditadura e de atos de tortura, outra parte, defende cegamente alguns políticos como se fossem deuses e não homens, homens são falíveis, cometem erros, e que, portanto, precisam responder por equívocos cometidos.
Em tempos de pandemia mundial, o Brasil e parte dos brasileiros dão demonstrações de uma sociedade enferma, não pelo vírus, mas por enfermidades morais, de postura, de comportamento de respeito pelo outro e pela coletividade. A insanidade tem um limite, e nesse momento, é a grande oportunidade para que o Planeta possa parar para refletir sobre o que estamos fazendo.
As lições que devemos extrair de todo esse processo é de uma mudança radical, de atitude, precisamos valorizar mais as questões espirituais. Esse papel cabe ao conjunto de toda a sociedade, independente de credo. Os governantes e políticos precisam se mostrar mais equilibrados, se é que isso seja possível, e a sociedade em geral deve entender, isso não é um jogo!
Esse é um momento para se construir a solidariedade, contribuindo para evitar o pânico, o medo e o pavor. Algum dia, todos iremos passar para outro plano, portanto, temos que ter em mente que a morte do corpo físico é algo que irá ocorrer, para isso, não terá nenhum vírus, a melhor preparação para esse momento, é buscar o aperfeiçoamento espiritual, de ser uma pessoa melhor do ponto de vista moral.
A crise é uma grande oportunidade de começarmos gradualmente a nos desprendermos do excesso de valores materiais e construirmos as pontes necessárias para que a sociedade possa evoluir através do lado espiritual, porém, para muitos, a morte é apenas um deboche.
Crédito de imagem: www.g1.com
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